14 de Setembro de 2008 - ao 3º dia, finalmente um dia inteiro em safari. A proposta surgira, pela voz do nosso guia, na véspera e fora acolhida em unissono pelo grupo: hoje iríamos ao encontro da rota da grande migração dos gnus e zebras, que nesta altura do ano (entre Setembro e Novembro), regressam das planicies do Serengeti, na vizinha Tanzania. O acordar fora acertado para 06:45. No rio, em frente do meu banda (bungalow), o grupo de hipopotamos residente, amontoado e sonolento, prefere ignorar a minha presença madrugadora, de camara apontada.
A saida do Camp faz-se pelas 09:00. Poucos minutos depois, deparamo-nos com um casal de leões, deitados ao sol, a céu aberto e a uma curta distancia de um grupo de bufalos, tranquilos. Com o motor do jeep desligado, ficamos a observá-los, a uma curta distância, extasiados pela força do momento, enquadrado pelo silêncio absoluto e a impassividade dos felinos. Um outro Jeep acaba por se aproximar, alertados pelo nosso comportamento óbvio, era altura de retomarmos o rumo traçado. Poucos quilómetros temos que percorrer até Musiara Gate, o portão que assinala uma das entradas no parque nacional Masai Mara. A enorme estrutura, ali plantada no meio do nada, existe apenas para obrigar todos os visitantes ao pagamento da taxa de entrada no Park (40 USD por pessoa, acrescidos de uma taxa por veiculo e uma outra por condutor, a pagar no regresso). Não existe mesmo qualquer vedação que impeça a circulação dos animais em qualquer sentido ou direcção. A mesma estrada de terra batida que nos trouxe até ali, encontra poucos quilómetros depois uma pista para os muitos bi-motores (Musiara airstrip) que "abastecem" um dos lodges de luxo ali existentes, o Governor´s Camp e leva-nos agora, dentro da região demarcada como Masai Mara Game Reserve, através dos grandes espaços verdes de uma das suas grandes planicies (Paradise Plain), em direcção a um dos famosos crossing points do Rio Mara. Ao longo de um percurso lento, abstraído num mundo paralelo a este, vou reimaginando o local, a partir das imagens retidas de tantos e tantos documentários na TV. Aqui e ali, vão surgindo motivos para paragens obrigatórias, seja um grupo de leões espojados à beira da estrada, um duo de elefantes enlameados, ainda um fugidio secretário (secretary bird) sob as suas passadas largas ou simplesmente pela silhueta de uma acácia marcada contra a imensidão da savana.
A chegada ao ponto de travessia do rio Mara é dificil de perceber, cá de trás, na estrada. O terreno perfeitamente plano e estendido à nossa frente, dá-nos uma noção de continuidade visual que não permite adivinhar, até uma distância muito próxima, a interrupção súbita da estrada, num desnível final escavado até ao rio. As várias dezenas de carros todo o terreno (!!!!!) alinhados nas margens elevadas e sobranceiras ao rio, antecipam a magia do momento. Na outra margem, visualizamos à distância, as filas de zebras e gnus que correm na direcção do local onde procuramos disputar o melhor local para estacionar o jeep. O ambiente é frenético, a adrenalina sente-se no ar, nos animais, em cada um daqueles carros, em cada um de nós, com sentimentos divididos entre uma vontade selvagem de presenciar o sucesso dos crocodilos e um desejo sofrido de ver a presa alcançar a segurança, ainda que a custo, ferindo-se nas grandes pedras que se amontoam na margem oposta, como ultimo e definitivo obstáculo à sua sobrevivência. Junto à água, os gnus e as zebras, sempre cautelosas, tentam adivinhar o melhor momento para concluir o seu grande objectivo, de costas viradas para o Serengeti. À iniciativa tresloucada de um dos animais, seguem-se, sem hesitações, algumas outras dezenas, lançando-se na corrente forte do rio, por meio dos sons amontoados e aflitos das zebras, saltando entre e sobre enormes crocodilos, numa confusão ruidosa de patas e cabeças e donde saiem quase sempre a salvo. Em quase 1 hora que ali estivemos, apenas demos conta da captura de uma unica zebra, que desapareceu nas águas castanhas, sem queixume, puxada para baixo, de uma unica vez.
Abandonámos o local num momento de alguma acalmia, com as manadas observando o rio em segurança, do alto das suas margens. Fazemos uma paragem à sombra de uma árvore, num local recuado em relação ao rio, para o consumo rápido das lancheiras preparadas para cada um de nós.
No regresso, o reencontro com alguns dos intervenientes do percurso da manhã, antes de abandonarmos o Masai Mara Game Reserve, pela mesma Musiara Gate. Chegada ao Camp pelas 17:30.
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