28/7/2007 - De volta a Maputo, onde ficaríamos 2 noites e quase 3 dias.
O dia recebeu-nos cinzento e a viagem do Bilene para Maputo foi sem paragens. A entrada em Maputo, vindo do Norte é assustadora e inebria. A confusão intimidatória, numa circulação com muito poucas regras, naquela estrada que dificilmente poderia ser reconhecida, acompanha-nos no meio das filas compactas de automoveis, sempre rodeados de gente, muita gente, por todo lado, na estrada, nas bermas dos dois lados, ao longo das bancas de vendedores numa linha sem fim que nos escondiam as referencias que íamos procurando ao longo do percurso. Aqui e ali, no entanto, dois ou três momentos, iam-me situando no espaço e no tempo: o velho letreiro luminoso do antigo Drive-In, decadentemente dependurado de uma velha estrutura metálica, parecia não ter espaço para cair, no meio de tanta barraca, inclemente com o passado; os portões do Jardim Zoológico, invisivel, adivinhavam-se por detrás da 1ª linha de barracas, camiões e toda aquela gente; o velho cemitério, onde suponho existir ainda um velho jazigo de familia. Lembro-me de me ter perguntado, à frente da comitiva, se o Zé e a Maria João, no ultimo dos Toyotas (aos meus irmãos nada daquilo era reconhecivel, seguramente) conseguiriam identificar algo, à medida que íamos avançando, concentrados, naquele ambiente ruidoso. A confusão só ameniza, quando viramos à esquerda, na direcção da cidade, junto ao antigo Hospital da Missão de São José. Aí, arriscámos a paragem, em frente ao velho edificio, agora com outro nome, para mostrar aos meus irmãos, onde haviam nascido. A entrada na cidade pela Av. 24 de Julho, confirma a impressão do primeiro contacto com Maputo, alguns adias atrás. Muito lixo, os passeios mal conservados, edificios deteriorados, quase todos com as suas cores originais comidas pelo tempo, muita pobreza espalhada pela enorme avenida que leva ao outro lado da cidade, a Polana, que recordo bem mais bonita, limpa e bem conservada, pelo peso dos seus hoteis, embaixadas e restaurantes de referencia.
No entanto, naquela tarde de sábado, que queríamos bem aproveitada, rumámos para a baixa, com o objectivo de visitar o Bazar, que julgávamos estar encerrado no dia seguinte, por ser domingo.
Logo que colocámos os pés fora dos carros, fomos tomados de assalto, por alguns auto proclamados seguranças, que não mais nos largaram durante toda a visita ao mercado.
A visita ao mercado permitiu o primeiro contacto a sério com o passado, em especial para o meu primo Zé. Numa banca do Bazar encontrou alguns orgulhosos adeptos do Desportivo, aos quais se apresentou para relembrar os tempos do clube na longinqua década de 70. Aqui e ali, ouviu-o repetir a sua história - "Saí há 30 anos, sou moçambicano e volto agora depois de este tempo todo...".
Depois do Bazar, a poucas centenas de metros dali, entrámos no café Continental para lanchar. O velho café, outrora frequentadissimo pelo meu avô Sebastião, nada conserva dos seus outros tempos, senão uns velhos paineis de parede pintados com representações da velha cidade. Achei curioso, que num daqueles paineis, uma pintura antiga da Praça do Municipio, algum artista local havia toscamente recolocado o velho Mouzinho de Albuquerque a cavalo, tantos anos depois de ter sido apeado a golpes de pincel, logo após a independencia de Moçambique. Depois de acalmados os estomagos, seguimos pela longa avenida da baixa (não me recordo do seu nome) e logo a seguir à FACIM, (em frente da qual existem hoje uma série de edificios novos entre hoteis, restaurantes e ministérios, entalados entre a Feira e os campos de futebol do Sporting, hoje Maxaquene, e do Desportivo), fizemos uma nova paragem para uma visita ao ex-Clube de Pesca, de tantos fins de semana (é hoje uma escola Náutica). Irreconhecivel, aquela "minha" piscina, hoje sem vista para a baía, tapada por um restaurante que nasceu encostado ao muro sobranceiro ao mar. Foi uma visita de breves minutos, de saída, contornámos todo o espaço da FACIM, fizemos uma passagem pelo remodelado Zambi (do outro lado relembrámos a Catembe), continuámos pela marginal (uma boa parte daquele muro, ao longo da marginal plantada com coqueiros, está hoje todo destruido), antes de subirmos para a Polana. O Hotel Polana, mereceu paragem obrigatória. Continua imponente, deitado sobre a baía do Maputo, impecavelmente ostentando o titulo de um dos melhores hoteis de Africa.
A parte final da tarde, deu-nos ainda tempo para espreitarmos a ultima das nossas moradas na velha Lourenço Marques, no Bairro da Coop. Foi com alguma admiração que vi o meu irmão Luis identificar fácilmente o nº 709 da ex Rua General Bettencourt, de onde havia saído há 30 anos atrás. Chocante, no entanto, foi o estado em que encontrámos o conjunto dos PHs, logo ali na esquina, prédios tidos como referencias de modernidade quando foram construidos.
Rumámos ao Hotel Cardoso já noite fechada. O dia terminou com um jantar amariscado no Piri-Piri.
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